quarta-feira, abril 15, 2009

Ars Moriendi

[Ab imo Pectore]

Sentimentos amargos são cuspidos
Para um vazio de emoções penosas,
Frios e profundos como jazigos,
Frutos de lembranças tempestuosas.
Funde-se a dureza da vivência
Com a inocência macia de criança,
Cose-se a verdade com a sapiência,
Pelo peito é trespassada a lança.
Entoações merencórias são ouvidas
Entre gritos afiados de desespero,
Como navalhas em pele são sentidas,
Representam dor sentida, desassossego.
Desassossego eterno das mentiras,
Desespero eterno que gera o medo.


O brilho no olhar, consegues ver? Consegues sentir a mágoa libertada pela pupila entre os cabelos soltos? Mágoa oriunda da raiva, raiva que destrói.Aquele olhar vidrado que provoca arrepios na espinha como uma pedra de gelo que derrete com o calor do corpo... Consegues ver? Consegues sentir a frieza da palidez? Sentes as cicatrizes com o mais suave toque? Pele lisa, pálida, fria. Olhar brilhante, vidrado, odioso.Vês as linhas negras que cosem seus lábios? Sua mudez eterna é banhada por lágrimas cortantes. Toca seus lábios e sente... Sente a textura das linhas que adornam o portão das mentiras.Seu corpo treme, gelado, desesperado... Sentado sobre pedra escura, sua pele branca está envolvida por pano, burel, puro burel que tenta aquecer o mais frio dos seres. Não tenta encobrir, as mentiras não se encobrem: Descobrem-se. Descobrem-se pelo olhar, pelo tremer, pelos lábios que pronunciam as palavras, descobrem-se e cultiva-se a mágoa, a destruição. Descobrem-se... Agora descobrimos... E sentamo-nos sobre a pedra da vida que nos revela todas as suspeitas. Nosso corpo então treme, gelado e desesperado. Nossa mente sabe a verdade, nossos sentidos sempre souberam, tentávamos ocultar as mentiras de nós mesmos. Nosso olhar torna-se brilhante das lágrimas que nos cortam escorrendo pela face, molham nosso cabelo solto. Pegamos na agulha e cosemos nossa boca, tentamos impedir que a mentira saia de nós agora que a sabemos. Albergamos a verdade, carregamos a mentira no peito. Peito dilacerado como se uma lança o tivesse trespassado. Agora que a mentira reina em nós também reina o desassossego... Eternamente.

segunda-feira, abril 13, 2009

Ecaso

Olho para trás, vejo o caminho percorrido,
Parece que o tempo passou tão rápido
No entanto tanto já foi vivido.
Não sei se o caminho ainda é o mesmo
Ou se já mudou.
A disposição alterou-se
Mas a confusão manteve-se.
Não sei o que pensar,
Apenas penso... Demais.
Não sei o que fazer...
Quero tudo,
Quero nada,
Não sei de desejo querer
Ou se apenas quero o desejo.
Muitas duvidas que pairam,
Nenhuma certeza permanece.
Nenhuma resposta é correcta
No entanto, todas podem estar erradas.
Não adianta o que decida:
Tudo é demasiado vago,
Tudo é em vão!
Mantenho memórias opostas
E visualizações aprazíveis,
Visualizações que jamais se tornarão memórias,
Memórias que jamais se tornarão visíveis.
É um caminho de incertezas,
É um caminho de sobreposição.
Nele caminho sozinha...
Dividida entre impulso e razão.