Fantasia do paraíso

Recolho solenemente sonhos, caminho entre as folhas orvalhadas,
Observo árvores encantadas, espreito sobre seus troncos medonhos,
Solto meus longos cabelos escuros, beijo flores aveludadas de tons purpurinos,
Ouço o doce som dos violinos escorrendo nos folheados muros.
Encosto meus lábios brilhantes a frutos suculentos e macios,
Na minha pele maviosa, por instantes, correm gotas amenas dos rios,
Sinto o paraíso no toque leve de meu vestido, o céu é negro e cintilante
Meu sorriso é estonteante, ao longe contemplo a miragem do meu destino:
Ele… A natureza… E ele…
Recolhido sobre a cachoeira, ele me avista com um sorriso incorporado na face,
E como se conhecesse este desenlace, levanta-se e dirige-se para a amendoeira,
Recolhe a mais bela flor…Seu perfume é a mais terna serenidade,
Dispo a vaidade do meu olhar, caminho em frente com elegância e esplendor.
Coloco minha mão sobre seu rosto coberto pelos espíritos negros,
Olho-o fixamente com ternura e gosto, sussurro-lhe sublimes segredos,
Ele envolve-me com suas vestes e acaricia-me com beijos,
Subtis são os nossos desejos corrompidos por olhares agrestes,
Rodeados pela beleza, vivendo a fantasia do paraíso, sós e enfeitiçados,
Separados da tristeza, de mãos dadas com a vida, sorrimos e mais tarde evaporamos.


Evaporamos como as gotas de orvalho das folhas;
Evaporamos como o toque aveludado das flores;
Evaporamos como as gotas amenas dos rios;
Evaporamos como as miragens;
Evaporamos como o perfume das amendoeiras;
Evaporamos como os segredos;
Evaporamos como as fantasias;
Evaporamos…
Evaporamos porque nos amamos…