domingo, junho 19, 2005

Na noite

Caminho, deambulo por estas ruas que tão bem conheço
Trago no bolso o sorriso que me pintaste
Trago na sombra as luzes trémulas da noite
O cansaço do caminho pesa-me nos músculos
Seguem-se os passos uns após os outros
Nesta noite calma em que me encontraste

Deslinda-se a linha de pensamento
Amontoam-se as lágrimas
Nestes olhos relutantes em deixá-las correr
Abrando o passo por um breve momento
Sinto o fluir da vida pulsar-me nas veias

Noutro tempo, noutra vida
Fui mais do que imaginei tornar-me hoje
Noutro sentido, noutra sina
Fui condor de luz em rituais pagãos
Sinto-me agora definhar e sei que o meu tempo urge

Foi tudo diferente naquela altura
Tento explicar-me, explicar-te
Tudo o que sinto, emaranhado de ilusões irrisórias
Já não pertenço a esta realidade.

A noite já não me conforta
A vida já não me seduz
Trago mil razões que a pouca gente importa
Para findar isto a que chamam viver.

No entanto continuo a minha caminhada
Sinto no rosto a brisa suave que o vento arrasta
Sento-me num café e acendo um cigarro
Um novo fôlego emana da minha mente
Levarei a minha vida adiante, senão por mim
Vou levando-a por ti.